domingo, 29 de agosto de 2010

Família de Dem preserva tradição dos trajes “à lavradeira"

Antigamente, na Serra d’Arga, todas as casas tinham uma “máquina de fazer tecido”, designação que um menino usou ao ver um tear exposto no Centro de Interpretação.Com o fim da necessidade de tecer em casa, a maior parte dos teares formam abandonados ou mesmo desmontados. E, assim, esta actividade tradicional foi-se tornando cada vez menos frequente.

Há, contudo, um ateliê familiar que resistiu ao tempo e continuou a fazer do tear, da tesoura e da agulha uma ocupação complementar ao amanho da terra. A raridade e a qualidade dos trabalhos produzidos acabaram por fazer da oficina das irmãs Lurdes e Florinda Pires, de Dem, uma referência na produção de trajes tradicionais. A filha de Lurdes das Carvalhas (como é mais conhecida), Aida Martins, acabou por se juntar à equipa, dando um novo impulso ao negócio familiar.

Lurdes das Carvalhas, de 72 anos, conta que começou a trabalhar muito nova, obrigada pela necessidade de dar o seu contributo para o sustento da família. Só mais recentemente é que a artesã deixou de cultivar “as leiras” e se dedicou em exclusivo ao ateliê.

O trabalho ganhou fama e esta família mostra com indisfarçável orgulho o motivo pelo qual as peças se tornaram muito procuradas. A preocupação começa logo na procura da lã e dos tecidos mais genuínos e apropriados, mas estas artesãs desabafam que é «cada vez mais difícil arranjar os materiais». Apesar de seguirem os moldes tradicionais, cada peça é única e tem as suas próprias histórias para contar. «Tudo é feito à mão, fio por fio», sublinham.

Do tear da tecedeira Florinda Pires e das mãos de Lurdes e Aida saem fatos domingueiros ou de trabalho, que podem custar de 400 até 800 euros, dependendo do gosto do cliente. «Podem ser mais ou menos ricos», referem as artesãs, confidenciando que os ranchos folclóricos são clientes importantes.

Os vários tipos de fatos à lavradeira – os verdes, os vermelhos, os azuis e os cor de pinhão – são os mais procurados, mas também há quem queira adaptar os motivos tradicionais para peças mais actuais, como coletes bordados para usar com calças de ganga ou outras peças que dão um toque diferenciador, nomeadamente em festas. O ateliê já bordou vestidos de noiva, toalhas e outras peças. «Nota-se que as pessoas estão dar mais valor a este trabalho do que davam aqui há uns anos», assinala Aida Martins.

Reportagem publicada no Diário do Minho, de 19 de Abril de 2010.

Sem comentários: