domingo, 29 de agosto de 2010

Câmaras planeiam projecto para valorizar a Serra d’Arga

As câmaras municipais de Caminha, Viana do Castelo e Ponte de Lima estão a elaborar um projecto que tem por objectivo valorizar os recursos da Serra d’Arga. A revelação é feita pelo vice-presidente da autarquia de Caminha. Em entrevista ao Diário do Minho, Flamiano Martins (FM) lamenta ainda não ter obtido resposta em relação ao pedido feito para a cedência das casas da floresta, que estão cada vez mais degradadas. Este responsável também defende alterações à legislação relativa à organização da floresta.

 © Luísa Teresa Ribeiro

DM – O Centro de Interpretação da Serra d’Arga (CISA) esteve encerrado durante vários anos. Esta reabertura é definitiva e com novo fôlego?
FM – É uma reabertura definitiva e com a possibilidade de desenvolvimento de um projecto mais abrangente para a Serra d’Arga e até alargado a outros municípios. Estamos em contacto com os municípios de Viana do Castelo e de Ponte de Lima para, em conjunto, fazermos um projecto para a Serra d’Arga, que privilegie a oferta dos produtos que esta área tem.

DM – Em que consiste o projecto?

FM – Ainda não é projecto. Para já, ainda está em pré-projecto. Os técnicos das três câmaras estão a trabalhar para desenharem o projecto. O objectivo é avançar o mais depressa possível. Pensamos que no final deste ano já haja uma proposta do que se quer para esta área. Estamos também a ver formas de financiamento que podemos obter, nomeadamente do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) e de outros instrumentos financeiros à disposição dos municípios.

Basicamente, o projecto consistirá em dar a conhecer os produtos que a Serra pode oferecer: circuito natural (que é o que salta mais à vista), religioso, mineiro – esta também é uma área importante e que também engloba o concelho de Vila Nova de Cerveira –, de costumes e tradições. A meta é valorizar tudo o que está ligado à Serra d’Arga, que pode ser um produto turístico bastante interessante no futuro.

DM – Um estudo levado a cabo pela Valimar defendia que a Serra d’Arga reunia condições para ser classificada como Área de Paisagem Protegida de Interesse Local. Essa ideia ainda existe?
FM – Esse é um assunto que vai ser discutido e que está a ser amadurecido. Isso terá de passar também pelo contacto com a população. A população faz parte da serra e, como parte da serra, tem uma palavra a dizer em relação a isso.

DM – Como é que a serra está em termos populacionais?

FM – É uma população muito idosa, mas vamos tentar que haja um rejuvenescimento e que se fixe população jovem com estes projectos que estamos a desenvolver. Já se nota, aliás, mais algum movimento.

DM – Que importância é que tem o CISA para a estratégia turística do concelho?

FM – É importantíssimo porque temos o mar, o rio e o monte. As nossas praias são ventosas e o monte pode servir de complemento à praia, quando esta não estiver convidativa. É também importante para combater a sazonalidade do turismo, pois permite atrair outros visitantes e noutras épocas do ano que não apenas no Verão, para além de proporcionar um dia diferente a quem procura o concelho pelas suas praias.

DM – Existe capacidade de alojamento?

FM – O alojamento é uma lacuna na parte interior do concelho. Temos bastante oferta – talvez ainda não chegue – no litoral, mas na zona interior não temos. Esta é uma área onde temos de apostar.

DM – Essa será uma área onde a Câmara vai investir ou deixará que seja a iniciativa privada a avançar?

FM – Preferia que existisse iniciativa privada, uma vez que as câmaras municipais não estão vocacionadas para explorar espaços hoteleiros. A Câmara tem um papel de sensibilizar o tecido empresarial para que existe uma área de negócio que não está explorada no interior do concelho. Poderá ainda ajudar a encontrar programas de financiamento, na elaboração do projectos ou na tramitação processual.

DM – Há espaços emblemáticos que poderão ser recuperados, como as casas da floresta?
FM – Há muitas casas da floresta, propriedade da antiga Direcção Geral de Florestas, agora Autoridade Florestal Nacional, que se têm vindo a degradar. As pedras grandes estão a ser roubadas. As casas estão praticamente em ruínas, mas poderiam ser recuperadas para a área do alojamento.

DM – Mas é preciso que alguém tome a iniciativa...

FM – Temos solicitado essas casas, e todos os municípios têm feito o mesmo, normalmente para projectos ligados ao turismo. Simplesmente, não dizem sim, nem não. Temos andado nisto durante anos e não temos conseguido obter respostas concretas ou da Direcção Geral do Património ou da Autoridade Florestal Nacional.

DM – A Câmara está interessada em alguma casa florestal?

FM – Estamos interessados e fizemos esse pedido à Direcção Geral do Património, mas ainda não obtivemos resposta. A casa poderia ser para alojamento tipo refúgio ou para outras actividades ligadas à floresta, como centros de interpretação ou como locais para receber os visitantes da montanha. Nós achamos que as casas não devem ser totalmente desligadas do fim para o qual foram construídas.

DM – É difícil manter esta floresta devido às espécies invasoras?

FM – Temos duas espécies invasoras para as quais não temos grandes soluções, que são a longifólia e a háquea. Estamos a desenvolver um projecto baseado no fogo controlado para ver se conseguimos controlar a háquea. A longifólia (austrália) é mais difícil, pois essa espécie exige um controlo contínuo, mas para isso precisávamos de apoios que não está a haver.

Nós estamos preocupados – e temos chamado diversas vezes a atenção da Autoridade Florestal Nacional – para ver se há alguma alteração na lei da criação das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), que são uma espécie de condomínio da floresta, em que a floresta poderá ser entendida num conjunto mais vasto, ou do concelho como um todo ou do concelho dividido em duas áreas, para que pudesse ser gerido de uma forma sustentável, pois com quintinhas pequenas não conseguimos gerir a floresta como deve ser.

Reportagem publicada no Diário do Minho, de 19 de Abril de 2010. Mais fotos aqui.

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