sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Número de atendimentos cresceu 20% de 2006 para 2007

APAV recebeu 309 idosos no primeiro semestre deste ano

O número de idosos que recorrem à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) tem vindo a aumentar, sendo os maus-tratos psíquicos uma das queixas mais frequentes.

As estatísticas desta organização relativas aos idosos vítimas de crime revelam que se verificou um aumento de 20,4 por cento de 2006 para 2007 no número de atendimentos.

Entre 2000 e 2007, a APAV recebeu 3.459 pessoas idosas vítimas de crime, tendo sido atendidas 290 em 2000, 387 em 2001, 455 em 2002, 396 em 2003, 384 em 2004, 346 em 2005, 545 em 2006 e 656 em 2007.

Relativamente ao número de crimes praticados contra pessoas idosas, entre 2006 e 2007 verificou-se um aumento na ordem dos 15,6 por cento, tendo passado de 1.077 para 1.245 crimes. Entre 2000 e 2007, a APAV registou um total de 7.059 crimes.

O Gabinete de Braga atendeu no ano passado 30 idosos (11,9 por cento do total de vítimas), sendo 26 do sexo feminino e quatro do sexo masculino.

Os dados relativos ao primeiro semestre de 2008 revelam que já foram atendidos em todo o país 309 idosos, que representam 8,4 por cento das vítimas que pediram ajuda. Entre as vítimas de violência doméstica atendidas nos primeiros seis meses do ano, 268 têm 65 ou mais anos (224 mulheres e 44 homens).

Ponta do “iceberg”

O Grupo de Estudos e Avaliação das Pessoas Idosas Vítimas de Maus-Tratos (GEAVI) sublinha que os dados existentes são «a ponta do iceberg» deste problema. Nas palavras de José Ferreira Alves e Mónica Sousa, os maus-tratos a idosos têm sido um fenómeno «excessivamente ignorado, tanto do ponto de vista da sua investigação e identificação como da sua prevenção e modos de intervenção».

«Pelo facto do abuso contra pessoas idosas ser um assunto sub-referenciado, em particular pelas próprias vítimas, que temem as consequências da sua denúncia, estima-se que os dados disponíveis sejam apenas a ponta do iceberg», sublinham os membros do GEAVI.

Os investigadores referem que «o abuso contra idosos é uma das problemáticas menos visíveis, sendo, porventura, um dos fenómenos que mais pessoas e recursos envolve, devido às consequências que apresenta. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde alertou para o facto de cerca de 4 a 6 por cento dos idosos que vivem em casa serem vítimas de abuso».

Os especialistas frisam que «o fenómeno do abuso apresenta uma importância impossível de ser negligenciada pelas sociedades contemporâneas», uma vez que se verifica «um acentuado envelhecimento da população resultante da diminuição da natalidade e do aumento da esperança média de vida. Este fenómeno, aliado a uma idade de reforma tendencialmente mais tardia, tem vindo a conduzir alterações no papel/estatuto da pessoa idosa, que originam novos desafios sociais».

Os membros deste grupo salienta que «é necessário que se preste atenção a alguns dos factores que podem aumentar a probabilidade de ocorrência de abuso e a possibilidade se detectar», tais como «o isolamento social, a dependência (entre agressores e vítimas), o stress do cuidador, a presença de psicopatologia e alguns factores de personalidade, o consumo de substâncias, a transmissão intergeracional de violência, os estereótipos em relação ao envelhecimento e o ambiente sociocultural».

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