A maior parte dos idosos sentem-se discriminados, sobretudo em interacções com profissionais de saúde e noutros contextos interpessoais em que os interlocutores supõem a priori que a pessoa com mais idade já não ouve bem ou não compreende bem.
Esta é uma das conclusões de um estudo levado a cabo por José Ferreira-Alves e Rosa Ferreira Novo, envolvendo 324 participantes, com idades entre os 60 e os 94 anos, residentes em diversas localidades dos distritos de Braga, Porto e Lisboa, alguns em instituições e outros integrados, em condições normais, na sociedade. A investigação visou perceber que percepção é que a população sénior tem da ocorrência de episódios de discriminação.
Dos 324 participantes, 68 por cento referem ter sido alvo de um ou mais tipos de episódios reveladores de discriminação relativamente à sua idade, sendo ainda elevadas as percentagens de participantes que referem ter vivenciado mais de três (38 por cento) e de cinco (14 por cento) tipos diferentes de discriminação. A percepção de discriminação em contextos de saúde é o item que obtém mais respostas, seguindo-se a assunção de surdez ou de falta de capacidade de compreensão.
Perante estes dados, apresentados no trabalho “Avaliação da discriminação social de pessoas idosas em Portugal”, os investigadores referem que «a semelhança numérica de ocorrências percebidas pelas pessoas idosas, no contacto com profissionais de saúde e com outras pessoas que supõem a priori que elas já não ouvem bem ou não compreendem bem, é sugestiva de como, não obstante a sua formação científica, os profissionais de saúde podem revelar a mesma ou maior dose de estereótipos que as pessoas comuns».
Os resultados sugerem que «a discriminação com base na idade avançada, terá supremacia relativamente à discriminação com base no género e na escolaridade». «É como se na nossa cultura o avanço da idade “apagasse”, de alguma maneira, o próprio género (“não há homens idosos ou mulheres idosas, apenas idosos!”) e os eventuais benefícios da escolaridade (não há pessoas idosas com mais ou menos escolaridade, há apenas idosos!). Este reducionismo centrado na idade (na velhice) acompanha a desvalorização da individualidade, o que é humanamente empobrecedor e culturalmente perigoso», alertam.
«De um ponto de vista científico, não há motivo para atribuir ao avanço da idade aquilo que as práticas discriminatórias sempre supõem: menor capacidade, competência ou dignidade. E, por isso, os resultados obtidos apontam para a necessidade de uma intervenção cultural lata da parte da comunidade científica no sentido de esclarecer, sempre que possível, os complexos puzzles de relações encontrados entre envelhecimento e saúde, envelhecimento e doença, envelhecimento e competência», vincam José Ferreira-Alves e Rosa Ferreira Novo.
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