Sinais de alerta permitem detectar a doença a tempo
Há pessoas que continuam a ignorar os sinais persistentes da doença, permitindo que ela se desenvolva, o que diminui a possibilidade de cura.
Alberto não era «homem de se entregar a doenças». Desde novo que tinha problemas intestinais e sempre sofreu de obstipação, algo que se foi agravando com o passar dos anos. Trabalhador incansável, só ia ao médico para acompanhar a mulher e, mesmo assim, raramente entrava com ela. Aos 66 anos, começou a emagrecer, a andar mais cansado e a ficar com uma coloração amarelada na pele.
Um dia, a mulher marcou uma consulta para ela e insistiu para que ele também entrasse. A médica notou logo que ele estava doente, só pela avaliação visual. Na sequência da consulta, fez uma colonoscopia e nem foi necessário fazer o exame completo, porque o tumor estava logo nos primeiros centímetros. Depois, fez uma tomografia axial computorizada (TAC), que detectou metástases em cerca de 75 por cento do fígado. A icterícia justificava a pele amarelada.
Maria, a filha, conta que «foi um choque enorme» quando foram «buscar os resultados da colonoscopia, que indicava, sem margem para dúvidas, a neoplasia». «Procurei agarrar-me a todas as esperanças. Pensei: ele vai fazer a operação e ficar bem, nem que tenha de ser ostomizado (usar o chamado "saquinho"). Mas, depois, foi tudo cada vez mais duro: a TAC a revelar as metástases... Acho que foi o dia mais triste da minha vida. Ou talvez não, não sei. Talvez, depois disso, tenha havido muitos dias ainda mais tristes», afirma.
A família tentou esconder a doença. No dia em que chegaram os resultados da colonoscopia, e quando Alberto perguntou o que era uma neoplasia, o marido de Maria, enfermeiro, disse-lhe que era uma ferida no intestino. «Para quê dizer? Não lhe íamos dizer: Pai, tens um cancro, não tem cura e vais morrer em pouco tempo. Nem pensar. Nas consultas, médico e enfermeiro dialogavam à frente dele, mas sempre em termos especializados. Mas ele devia suspeitar», explica.
Já não havia tratamento possível. O problema não estava nos intestinos, uma vez esses seriam tratados de forma relativamente simples. O tumor estava junto de uma artéria, pelo que se espalhou facilmente até ao fígado. «Tivemos de acompanhá-lo sempre, em exames, em idas a médicos, sempre à procura de uma esperança, que era sempre anulada», recorda a filha.
A entrada no IPO deu-se com o recurso a um subterfúgio: Alberto caiu em casa e a família chamou uma ambulância particular para o levar lá. Assim, não podiam mandá-lo embora. De outra forma não o aceitariam, pois nada havia a fazer para reverter a doença. «Sei que não adiantou em termos de cura, mas, pelo menos, teve cuidados que não lhe podíamos dar em casa. Por exemplo, ainda lhe fizeram uma transfusão sanguínea. Não adiantou, mas tentou-se», diz.
Maria achava que a doença «parecia um castigo». «Será um castigo por ele se ter dedicado só ao trabalho? No momento em que se reforma, fica assim?», pensava. Católica por baptismo, mas sem se considerar «religiosa», não culpou Deus. «Deus é meu amigo e as coisas acontecem porque há uma série de factores que levam a isso. No caso do meu pai, havia a obstipação, terá havido alturas em que perdeu sangue sem que tivesse procurado um médico, muito trabalho, muito stress... Se ele fizesse os exames regularmente, o tumor poderia ter sido detectado a tempo, sem as metástases, e ainda hoje estaria aqui», afirma.
Alberto só sofreu fisicamente «mesmo no fim», quando «ficou muito agitado a seguir à transfusão e nos últimos dias, em que já não podia beber». A família humedecia-lhe os lábios e a boca com uma "boneca", uma espátula de madeira com uma gaze envolvida na ponta, que se mergulha em água.
Maria mudou o rumo da sua vida depois da morte do pai. Passou a trabalhar por conta própria. Agora, anda mais vigilante em relação à mãe, que sofre de Alzheimer. A nível pessoal, aprendeu que tem de «tentar aproveitar um bocadinho a vida, viver e não só trabalhar». «Mas, no fundo, estou a fazer o mesmo percurso do meu pai: trabalhar por conta própria, trabalhar ao máximo, não ir ao médico e deixar andar», admite.
Divulgar os sinais de alerta
O Lions Clube de Braga é o responsável pela organização do peditório para a Liga Portuguesa Contra o Cancro no distrito. A prevenção e o alerta para os sinais dos diferentes tipos de cancro fazem parte desta operação anual.
Manuel Braga defende que «a maioria dos casos de cancro é tratável», mas o problema é que «muitas vezes se vai demasiado tarde junto de quem se deve». «A nossa missão passa também por divulgar os sinais de alerta e consciencializar as pessoas para que devem procurar o médico quando houver problemas persistentes. Esta pode ser uma doença combatível, se for detectada precocemente», afirma.
António Tinoco, por seu turno, refere que «o cancro ainda marca como um ferrete», mas há pessoas que continuam a descurar a prevenção, mesmo quando confrontadas com sinais alarmantes.
Estes dois membros do movimento lionístico salientam que, aquando do peditório, há quem se recuse a pegar nos folhetos informativos sobre a doença.
Lions Clube de Braga organiza o peditório para a Liga Contra o Cancro no distrito
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