sábado, 12 de julho de 2008

Produtos da Fábrica Confiança evocam memórias e fazem sonhar

Empresa aposta em artigos de valor acrescentado para competir no mercado

Não são apenas sabonetes. São imagens e cheiros que evocam memórias. São pretextos para sonhos passados noutros tempos e lugares. É nesta magia que a Confiança aposta para afirmar os seus produtos no mercado. A par das linhas vendidas em supermercados, a empresa bracarense com 113 anos tem comercializado produtos com maior valor acrescentado, maioritariamente feitos à mão. Depois da linha de homem, está a ser preparada uma gama de tratamento dedicada ao público feminino. A fábrica tem 30 funcionários e um volume de negócios de um milhão e 800 mil euros. Trinta por cento da produção é para exportação, para destinos como os EUA, Japão, Nova Zelândia ou Escandinávia. (Reportagem publicada a 12 de Novembro de 2007 no Diário do Minho. Foto Avelino Lima/Diário do Minho)






O pavilhão fica ligeiramente escondido no Parque Industrial de Sobreposta, ao lado de empresas clássicas de Braga como a Cachapuz, a Pachancho e a Império. Apesar de lá estar o nome, nada no edifício faz lembrar a imponência do imóvel que outrora ocupou na Rua Nova de Santa Cruz. Só quando José Peixoto abre as portas é que se começa a perceber pelo cheio e pelas imagens que ali é a fábrica Confiança.

Na parede, o certificado de qualidade está colocado ao lado de relíquias como o Diploma de Honra conseguido em 1927 na V Exposição das Caldas da Rainha ou o documento comprovativo da participação na Feira de Amostras de Aromas de 1932. Os relógios, com múltiplas formas, testemunham a longevidade desta empresa: 113 anos.

A responsável de vendas e marketing, Cristina Maia, e o encarregado de produção, José Peixoto, os cicerones, simbolizam o presente desta firma, que une gerações diferentes em torno de um objectivo comum. Com um longo percurso, a Confiança foi adquirida em 2005 pela Change Partners, uma sociedade de capital de risco que assumiu a missão de relançar a empresa. A mudança de instalações, que na altura já estava em curso, foi terminada.

A certificação foi um ponto de honra para a nova gestão. O objectivo foi atingido em Abril deste ano, com a obtenção da certificação pela ISO 9001:2000, tornando-se assim na única empresa do sector em Portugal que vê reconhecidos os seus métodos de produção e qualidade dos produtos.

Esta nova etapa da empresa implicou também mudanças na forma de trabalhar os produtos e nos mercados-alvo. José Peixoto, há décadas na Confiança, já trabalhou com dez administrações. Este funcionário começou a fabricar sabão, passou por todos os sectores e agora lidera a produção. «Muita coisa mudou ao longo dos anos. Mudou a mentalidade, a forma de trabalhar. Os nossos produtos estão diferentes. Estão diferentes na imagem e nos perfumes», afirma.

A prova daquilo que diz está em alguns armários que contêm os produtos que a fábrica foi produzindo ao longo dos anos. Actualmente a empresa lança no mercado fundamentalmente sabonetes, sabão, glicerinas, água de colónia, pó de talco, sais de banho, creme de barbear e ceras, produzidos por uma equipa de 30 pessoas, que se traduz numa facturação anual de 1,8 milhões de euros.


História de Portugal em sabonetes


Dentro daqueles escaparates estão sobretudo sabonetes de várias épocas, com invólucros para todos os gostos. É que para além dos sabonetes propriamente ditos, a fábrica sempre apostou muito na imagem que os envolvia. A juntar à função prática de lavar e perfumar, aquelas peças são também objectos de decoração. «Pode fazer-se a história de Portugal em sabonetes. A partir daqui podemos ter uma ideia do que se usava e do que ia sendo o gosto colectivo», constata Cristina Maia.

Rótulos de 1920/30, uma elegante boneca pintada à mão concebida para assinalar as bodas de ouro da fábrica e um sabonete evocativo da exposição de 1940 surgem ao lado dos sabonetes da Académica, do Benfica, do Porto ou do Salgueiros. Mas há também sabonetes personalizados com o nome de farmácias, uma iniciativa que foi lançada há cerca de uma década e que teve boa aceitação no mercado, especialmente no Norte.

Se na lista de produtos estão os que são feitos através de processos mecanizados – e a máquina tem capacidade para fazer cinco mil sabonetes por hora – também estão os que são acabados e embalados à mão. A massa que serve de base é a mesma para todos os sabonetes, mas há uns que depois são mais trabalhados do que outros. A responsável de marketing admite que a aposta nos produtos de maior valor acrescentado permite superar uma das limitações da fábrica: a falta de dimensão.

«Somos uma fábrica pequenina, que nunca poderá competir com sabonetes em supermercado ou em linear de supermercado. Esse é um segmento que nós prezamos, e ainda temos alguns bons clientes, pois vendemos para o Modelo e Continente, para uma série de grandes superfícies de distribuição, mas no qual é difícil competir devido ao nosso tamanho», explica Cristina Maia. O sabonete “Alfazema” é o mais vendido na linha “mass market”.

Os sabonetes acabados à mão exigem mais investimento do que os produzidos numa máquina que faz cinco mil à hora. «Exige outro investimento, pois implicam uma manualidade e um cuidado em termos de preparação muito maiores. Esses sabonetes não custam, logicamente, o mesmo que custa um sabonete de supermercado. Mas não se pretende aqui uma coisa para se tomar banho; é mais um bocadinho do que isso. É tomar banho e sonhar. É conseguir fazer uma viagem», diz a responsável de marketing.

Novos produtos, velhas memórias

Nas vitrinas estão também os produtos que foram relançados ou reajustados ao gosto dos nossos dias. Em breve chegará mais uma colecção. Cristina Maia revela que, no próximo ano, será lançada uma gama de tratamento com três sabonetes de base coco: «É uma gama tipicamente feminina, mais para a Primavera e para quando as preocupações com o corpo são grandes. O produto inclui um sabonete exfoliante, um hidratante e um anti-celulítico».

Os projectos revelam a preocupação de explorar mercados e colmatar lacunas, como a que havia nos produtos destinados aos homens. «Fizemos também uma linha de homem, chamada “O Melhor”, que inclui um creme de barbear, um sabonete exfoliante e um bálsamo “after shave”. Essa era uma grande falha no mercado. Toda a gente ficou apaixonada pela linha que lançámos e resultou muito bem», conta a comercial.

Para o Natal, a Confiança fez o relançamento da linha “Mimosa”, uma gama antiga que foi retomada. «Lançámos também uma linha mais moderna, mais “clean” do que as nossas linhas clássicas e retro, que também tem algum lugar no mercado, mais associada às linhas saúde e spas», conta.

Só que o mercado tem, por vezes, razões misteriosas. «Nós achávamos que esta linha mais “clean” iria sair muito melhor do que as outras em alguns dos segmentos, mas por uma questão de moda pura as outras saíram tão bem como esta. Isto tem muito de sentimento e de emoção. A experiência de compra deste tipo de produto passa sempre por aí», afirma a mesma responsável.

«Eu passei algum tempo a ver as pessoas a comprarem os produtos e constatei que as linhas mais clássicas evocam memórias. As pessoas lembram-se de coisas, como a casa onde passavam férias quando eram pequenas ou a avó com a qual conviviam», sustenta. Em seu entender, é correcto dizer que se compra um sabonete e uma recordação. «Compra-se mesmo uma memória. É como se tivéssemos uma imagem mental do cheiro», acrescenta.


Diversificação de mercados


Cristina Maia salienta o trabalho que tem sido feito no sentido de «trazer para Portugal as linhas clássicas que estavam só a ser trabalhadas e vendidas no exterior».
Os clientes da Confiança estão em Portugal, mas também no estrangeiro. «São mercados igualmente importantes e igualmente trabalhados. Vendemos cerca de 30 por cento para exportação, mas temos muito orgulho em vender para Portugal este tipo de produto. Somos uma empresa portuguesa que se orgulha de o ser», explica.

A firma já está implantada nos mercados dos EUA, Japão, Nova Zelândia e Escandinávia, entre outros. «Em 2008 vamos trabalhar alguns mercados de exportação. Os mercados querem-se cuidados e bem tratados. Vamos continuar a trabalhá-los um de cada vez», adianta a mesma responsável.

Para o próximo ano perspectiva-se também a continuação do trabalho de divulgação da empresa, que já permitiu a entrada nos Parques de Sintra e na Fundação Gulbenkian. «Este ano as apostas vão ser num trabalho muito focado no marketing e nas vendas. Vamos tentar lançar a Confiança em força, trazer algumas novidades em termos de produtos, mas também algumas novidades em termos de maneira de estar», refere.

«A visibilidade da Confiança é muito reservada. Somos muito discretos. A ideia não é passarmos a ser exageradamente mediáticos, mas pelo menos marcarmos presença no sector e não passarmos despercebidos. Queremos pegar nas pessoas que aqui estão e na história que elas têm, juntá-la em sabonetes e mostrar o resultado final aos que ainda não nos conhecem. Essa é a nossa aposta forte», declara.

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