sábado, 12 de julho de 2008

«A interactividade na TDT é de certa forma limitada»

Todos os canais da televisão digital vão ser de alta definição

Sérgio Denicoli, que está a fazer o doutoramento em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, desfaz o mito de que a Televisão Digital Terrestre (TDT) é sinónimo de televisão interactiva. O novo modelo vai permitir que, a partir 2012, todos os canais sejam de alta definição, mas também vai ter implicações no bolso dos telespectadores, que vão ser obrigados a comprar um descodificador. (A entrevista foi publicada em Março de 2008 no Diário do Minho. Há parte já ultrapassadas que não são aqui reproduzidas)


O que é a Televisão Digital Terrestre?


A televisão é a emissão de um sinal que chega a um receptor, que o converte em imagens e sons. Existem vários tipos de transmissões: na televisão por cabo o sinal chega a nossa casa por fibra óptica, na televisão por satélite o sinal vem pelo satélite e nós temos uma pequena antena que o recebe, na IPTV o sinal vem por cabo de cobre (pela linha telefónica) e na televisão terrestre o sinal chega pelo ar através de ondas de rádiodifusão. A televisão de que falamos agora é a TDT. Com o digital, deixamos de ter ondas analógicas e passamos a usar a linguagem binária, que é a mesma dos computadores. Na televisão digital, o sinal é comprimido porque é a linguagem é binária, o que nos permite ter mais espaço no espectro.

O que é que se pode fazer com o espectro remanescente?

Em Portugal, optou-se por lançar mais um canal de televisão aberta e diversos canais de televisão paga, de âmbito nacional e regional. Também ficou decidido que, a partir de 2012, com o apagão analógico, todos os canais de televisão digital vão ser de alta definição, isto é, terão imagens formadas por mais pontos. Na televisão analógica temos a imagem formada por linhas, enquanto que na televisão digital é formada por pontos. A televisão de alta definição permite perceber melhor a imagem.

Vamos ter de possuir um descodificador para receber a TDT?

Os aparelhos de televisão que temos hoje são analógicos e para termos a conversão do sinal digital precisaremos de uma “set-top-box” que será ligada aos televisores, tanto para ver a televisão aberta e gratuita como para ver os canais pagos. Os telespectadores vão ter de comprar esse descodificador porque o Governo já disse que não vai subsidiar a sua aquisição.

Essa tecnologia tem mais potencialidades?

Sim. Podemos ter descodificadores com alguns serviços de interactividade, como a possibilidade de gravar a programação, de exibir a proogramação no ecrã, etc. O sinal analógico é algo intermitente. O sinal digital chega em blocos e é armazenável. Se o nosso descodificador gravar aquela informação, poderemos ver o programa na hora que quisermos. As pessoas dizem que isso vai ser uma revolução, porque vão poder ver os programas à hora que quiserem. Só que pode não ser exactamente assim, uma vez que também se dizia o mesmo com as cassetes de vídeo e, na verdade, em alguns casos as pessoas passaram a gravar os programas, mas isso não influenciou decisivamente o mercado televisivo. Para além disso, pode ser que surjam grandes novidades em termos tecnológicos, mas que ainda não existem.

Que implicações é que a TDT vai ter para quem recebe televisão por cabo ou satélite?

Quem assina esses serviços não sofrerá muitas consequências. O que pode ocorrer é algo positivo. Como a televisão digital terrestre trará mais canais, as actuais empresas que fornecem serviços por cabo, satélite e IPTV poderão fazer acordos com o operador de distribuição da TDT e oferecer aos seus assinates também esses canais que surgirão. É possível que uma “set-top-box” tenha entrada para mais de uma plataforma, ou seja, o telespectador poderia receber, por exemplo, sinais da TV digital terrestre e do satélite. Ao accionar o comando a tecnologia de recepção mudaria, mas isso seria automático e imperceptível para quem estivesse à frente do ecrã. É o mercado que vai responder a isso.

A TDT é sinonimo de interactividade?

A interactividade na TDT é de certa forma limitada. Para haver uma interactividade plena é preciso um canal de retorno; é preciso que nós, enquanto telespectadores, tenhamos um canal para podermos enviar informações para essa emissora. Na IPTV, no cabo e no satélite é muito mais fácil, porque cada casa tem ali um teminal que permite um contacto directo com quem está a emitir a informação. Na TDT, a interactividade é mais limitada. Se por exemplo existir um canal para a língua gestual, a interactividade resume-se a accionar o comando para pôr em funcionamento esse canal. O concurso lançado pelo Governo obriga as empresas a apresentarem soluções de interactividade, que depois vão ser avaliadas. Não há exigências específicas neste sentido.

Há exemplos na área da interactividade?

Na Universidade de Aveiro, o engenheiro Jorge Ferraz desenvolveu uma plataforma muito interessante, que não é exclusivamente para a TDT, pois pode ser usada na televisão analógica. Ele aliou a tecnologia da Web e a recepção televisiva por meio de uma placa de computador colocada numa “set-top-box” e conseguiu criar uma sobreposição da imagem, que deixa o espaço para interacção. O telespectador consegue saber se alguém conhecido está a ver o mesmo canal e pode comunicar-se com essas pessoas, conversar, enviar vídeos, etc.

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