quarta-feira, 29 de abril de 2009

Nem todos os aparelhos funcionam


O investigador da Universidade do Minho Sérgio Denicoli alerta para o facto de comprar um novo televisor não ser tarefa fácil. O doutorando em Ciências da Comunicação assegura que há à venda aparelhos com o selo a indicar que funcionam com TDT, mas na verdade não funcionam com o sistema que foi adoptado em Portugal.

«Em Portugal, a tecnologia escolhida foi o MPEG4, enquanto em alguns países foi o MPEG2. Alguns aparelhos que estão a ser vendidos com o selo TDT estão preparados apenas para MPEG2, pelo que não vão funcionar em Portugal», adverte.

Para evitar as confusões, a PT lançou um selo específico para os aparelhos que cumprem as regras técnicas para emitirem TDT em Portugal.

A outra opção é comprar um descodificador, mas também neste âmbito a tarefa não é simples, nem barata. «Inicialmente, o descodificador deverá custar entre 100 e 150 euros. Mas se as pessoas quiserem gravar os programas e ter acesso a outras potencialidades da TDT terão de optar por um descodificador mais caro», assegura o especialista.

«Quase metade da população tem televisão por subscrição. A metade que não tem, é provavelmente aquela que não pode pagar. Porque é que estas pessoas vão desembolsar 150 euros para terem praticamente o que têm agora?», interroga.

O presidente da PT, Zeinal Bava, referiu recentemente que a caixa vai ser subsidiada «para certos segmentos de mercado», mas «não explicou como será esse subsídio, nem quando é que ele será colocado em prática».

Sérgio Denicoli faz referência ao caso italiano, país em que os descodificadores foram oferecidos. Depois das queixas dos operadores de cabo e satélite em relação a esta medida do primeiro-ministro Berlusconi, o Governo decidiu subsidiar todos os aparelhos para a recepção de sinais digitais em todas as plataformas e o investimento nesses aparelhos alternativos à TDT passou a ser dedutível no IRS.

«Portugal é um dos poucos países da Europa que lançam a TDT sem nenhum tipo de vantagem com grande relevância para o telespectador. Com a TDT, as pessoas vão ver o que viam na analógica, embora com a possibilidade de verem no ecrã o guia electrónico da programação», explica o doutorando do Departamento de Ciências de Comunicação.

A novidade seria a existência de mais um canal, mas os dois projectos apresentados foram chumbados pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social e o processo segue agora nos tribunais.

As interrogações continuam também em relação à televisão digital de âmbito regional, que vai ter acesso pago, alvo de um concurso autónomo, pois ainda nada foi definido.

Sérgio Denicoli sublinha que a grande questão que se põe actualmente é o que fazer com o dividendo digital: «Quando se desligar o sinal analógico, vai-se libertar espaço no espectro para outro tipo de serviços, como a transmissão de dados via Internet móvel».

[Publicado no Diário do Minho, de 28 de Abril de 2009]

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