quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Artémis quer alargar voluntariado nos hospitais


A Artémis – Associação de Apoio a Mulheres Vítimas de Aborto Espontâneo quer alargar o serviço de voluntariado em unidades hospitalares, uma vez que o trabalho que está a ser desenvolvido no São Marcos, em Braga, mostra que o problema da perda embrionária (até aos três meses de gravidez) ou fetal (dos três aos nove meses) exige atenção.

A presidente desta organização explica que os dados recolhidos na unidade hospitalar bracarense permitem confirmar que o aborto espontâneo atinge valores assustadores. Em Braga, em Fevereiro 30 mulheres perderam os seus filhos e em Março esse número subiu para 36.

A Artémis completou no dia 1 de Junho um ano de trabalho de voluntariado no Hospital de S. Marcos, em Braga. A equipa de voluntárias – que em 2007 era composta por quatro elementos – tem agora dez pessoas, que «receberam formação específica necessária» para iniciar estas acções. Diariamente uma equipa de voluntárias passa pelo Serviço de Obstetrícia para dar apoio emocional e informativo às mulheres que estão em processo de perda.

«A equipa de voluntariado do S. Marcos tem tido mérito reconhecido pelos técnicos de saúde, sendo que este é um problema que requer mais atenção e sensibilidade por parte da sociedade em geral», refere a associação.

Manuela Pontes salienta que o objectivo é, agora, conseguir mobilizar mulheres que passaram pela experiência da perda para este trabalho voluntário, existindo contactos para a entrada em funcionamento deste serviço em Guimarães e em Coimbra.

Esta responsável defende que a existência de voluntárias é importante para quem está a passar pela experiência de traumatizante da perda de um filho, uma vez que elas percebem com conhecimento de causa o que vai na alma dessas mães.

«Diariamente há mulheres que perdem os seus filhos e isso verifica-se cada vez mais no último trimestre de gestação. A gravidez não é um dado adquirido», afirma.

A pensar nesta realidade, a Artémis está a equacionar a mudança de nome, uma vez que a menção ao apoio a vítimas de aborto espontâneo é redutora. A associação deverá passar a fazer menção a vítimas de perda gestacional, algo mais amplo e que corresponde à realidade.

«Oferecer um sorriso»

Maria de Jesus Bastos diz que o voluntariado no Hospital de S. Marcos deu-lhe a oportunidade de gerar sorrisos. «Ser voluntária da Artémis deu-me a oportunidade de oferecer um sorriso... quando temos vontade de chorar. Estender a mão.... quando a vontade é fugir. Transmitir coragem... quando queremos desistir. Dar amor e receber esperança de que vamos continuar a olhar em frente, pois a vida tem um propósito maior....», afirma num texto publicado no boletim trimestral da associação.

Irene Fernandes, que também faz voluntariado na unidade de saúde, considera que este é «um trabalho necessário, importante e até gratificante». «Nos dias de hoje, a taxa de perdas gestacionais é muito grande, assim também a dor de quem as sofre», alerta.

«Quando falamos em perdas deste porte, o mundo desaba, fica confuso, os sentimentos atropelam­se em catadupa, e torna­se difícil lidar com a situação. É nesta altura que entra a voluntária, dando força, ajudando na orientação, mas acima de tudo ouvindo e partilhando da dor imensa que as sufoca e lhes dilacera a alma», afirma.

[Adaptação de dois artigos publicados no Diário do Minho]

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