quarta-feira, 29 de abril de 2009

Braga fora do primeiro grupo de localidades com televisão digital

As emissões experimentais de televisão digital terrestre (TDT) começam hoje, mas Braga não faz parte do primeiro lote de localidades contempladas com o novo serviço.

A empresa que ganhou o concurso para a implementação da TDT em Portugal, a Portugal Telecom (PT), tem uma página na Internet, na qual é possível introduzir o código postal e ficar a saber quando é que o serviço está operacional na área geográfica em causa.

O investigador da Universidade do Minho Sérgio Denicoli adverte, justamente, para o risco de as pessoas verem a suas expectativas defraudadas quando ouvirem dizer que já existe televisão digital, mas esta ainda não funcionar na localidade onde residem.

«O Governo deu um prazo de três anos para a empresa vencedora do concurso assegurar a cobertura de 99 por cento da população portuguesa em três anos. A PT estabeleceu um plano com oito fases, prevendo que todo o território, incluindo as ilhas, esteja coberto no final de 2010. Numa primeira fase, haverá a cobertura de cerca de 30 por cento da população», explica o doutorando em Ciências da Comunicação, que mantém o blogue TV Digital em Portugal.

O especialista relembra que 2012 é a data apontada pela Comissão Europeia para o denominado “switch-off” ou “apagão analógico”. Isto significa que, nessa altura, vai deixar de existir a televisão terrestre analógica, em que o sinal é eléctrico e chega pelo ar através de ondas de radiodifusão, sendo captado por antenas. Por isso, até lá, quem tem esta televisão vai ter de se adaptar para passar a receber televisão terrestre digital, que possui a mesma linguagem dos computadores. Durante este período, vão coexistir os dois sistemas.

Na prática, a mudança significa que as pessoas vão ter de trocar os aparelhos que não tenham capacidade para receber o sinal digital ou de comprar um descodificador para cada televisão que possuírem. «A TDT só afecta quem tem televisão por antena. Quem tem televisão por cabo, satélite ou IPTV não terá de fazer qualquer adaptação», refere.

Dados do Observatório da Comunicação (Obercom), divulgados em 2008, indicam que 56,3 por cento dos portugueses recebem televisão através de antena, 8,3 por cento têm TV por cabo (analógica e digital) e 5,4 por cento acedem através de outras tecnologias, tais como o satélite e o DSL.


[Versão de artigo publicado no Diário do Minho, de 28 de Abril de 2009]

Nem todos os aparelhos funcionam


O investigador da Universidade do Minho Sérgio Denicoli alerta para o facto de comprar um novo televisor não ser tarefa fácil. O doutorando em Ciências da Comunicação assegura que há à venda aparelhos com o selo a indicar que funcionam com TDT, mas na verdade não funcionam com o sistema que foi adoptado em Portugal.

«Em Portugal, a tecnologia escolhida foi o MPEG4, enquanto em alguns países foi o MPEG2. Alguns aparelhos que estão a ser vendidos com o selo TDT estão preparados apenas para MPEG2, pelo que não vão funcionar em Portugal», adverte.

Para evitar as confusões, a PT lançou um selo específico para os aparelhos que cumprem as regras técnicas para emitirem TDT em Portugal.

A outra opção é comprar um descodificador, mas também neste âmbito a tarefa não é simples, nem barata. «Inicialmente, o descodificador deverá custar entre 100 e 150 euros. Mas se as pessoas quiserem gravar os programas e ter acesso a outras potencialidades da TDT terão de optar por um descodificador mais caro», assegura o especialista.

«Quase metade da população tem televisão por subscrição. A metade que não tem, é provavelmente aquela que não pode pagar. Porque é que estas pessoas vão desembolsar 150 euros para terem praticamente o que têm agora?», interroga.

O presidente da PT, Zeinal Bava, referiu recentemente que a caixa vai ser subsidiada «para certos segmentos de mercado», mas «não explicou como será esse subsídio, nem quando é que ele será colocado em prática».

Sérgio Denicoli faz referência ao caso italiano, país em que os descodificadores foram oferecidos. Depois das queixas dos operadores de cabo e satélite em relação a esta medida do primeiro-ministro Berlusconi, o Governo decidiu subsidiar todos os aparelhos para a recepção de sinais digitais em todas as plataformas e o investimento nesses aparelhos alternativos à TDT passou a ser dedutível no IRS.

«Portugal é um dos poucos países da Europa que lançam a TDT sem nenhum tipo de vantagem com grande relevância para o telespectador. Com a TDT, as pessoas vão ver o que viam na analógica, embora com a possibilidade de verem no ecrã o guia electrónico da programação», explica o doutorando do Departamento de Ciências de Comunicação.

A novidade seria a existência de mais um canal, mas os dois projectos apresentados foram chumbados pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social e o processo segue agora nos tribunais.

As interrogações continuam também em relação à televisão digital de âmbito regional, que vai ter acesso pago, alvo de um concurso autónomo, pois ainda nada foi definido.

Sérgio Denicoli sublinha que a grande questão que se põe actualmente é o que fazer com o dividendo digital: «Quando se desligar o sinal analógico, vai-se libertar espaço no espectro para outro tipo de serviços, como a transmissão de dados via Internet móvel».

[Publicado no Diário do Minho, de 28 de Abril de 2009]

O que é isso?!

O que é isso de TDT? Quando é que vou poder ver em minha casa? Vai haver alguma diferença em relação ao que há agora? Vou ter de deitar ao lixo a televisão que tenho? O Governo vai dar subsídios para comprar os novos aparelhos? Onde é que há informações sobre isso?

Estas são algumas das questões que surgem quando se pergunta às pessoas o que é que sabem sobre a televisão digital terrestre (TDT), que começa amanhã as emissões. As respostas obtidas num mini-inquérito feito pelo DM confirmam as preocupações manifestadas pelo investigador Sérgio Denicoli acerca do desconhecimento que existe sobre esta matéria.

«A TDT teve de ser implementada em Portugal apressadamente por causa do atraso que existia no processo. A televisão digital vai ser lançada sem que as pessoas saibam do que se trata, sem que tivesse havido uma campanha de esclarecimento. A população deveria ser envolvida», afirma.

Portugal faz parte do último lote de países da União Europeia a iniciar as transmissões digitais terrestres, juntamente com Polónia, Roménia, Irlanda, Chipre, Letónia e Eslováquia.

Em relação ao (des)conhecimento que a população portuguesa tem sobre esta matéria, dados do Observatório da Comunicação (Obercom), divulgados em 2008, indicam que 83,7 por cento das pessoas nunca ouviram falar de televisão digital terrestre.

[Publicado no Diário do Minho, de 28 de Abril de 2009]